segunda-feira, 7 de setembro de 2015

O realismo fantástico nas telenovelas

Professor Astromar (Rui Rezende) que virava lobisomem nas noites de lua cheia e assustava todo mundo da pequena cidade de Asa Branca (Roque Santeiro, 1985).

O auge do realismo fantástico foi nos anos 70, conseguindo ainda obter destaque nas décadas posteriores. Foi uma forma inovadora para driblar a censura, onde tratar o absurdo como natural se tornou um recurso imprescindível, exigindo do espectador o máximo de percepção com o mínimo de exposição.

Os principais nomes do realismo fantástico na teledramaturgia brasileira são: Dias Gomes e Aguinaldo Silva que criaram inúmeros personagens enigmáticos e misteriosos. O livro "Cem anos de solidão", escrito por Gabriel García Márquez, é a fonte de inspiração para Dias Gomes e Aguinaldo Silva na composição de seus personagens, que possuem a mesma personalidade encontrada no romance, como se percebe em Dona Quirina (em Pedra sobre Pedra) que igualmente à matriarca Úrsula Iguarán surpreende a todos com sua memória prodigiosa; ou vivenciarem situações semelhantes, no caso de Zico Rosado (em Saramandaia) e o coronel Aureliano, último da linhagem dos Buendia. O primeiro (Zico Rosado) abriga formigas no nariz, e o segundo (coronel Aureliano) é devorado por elas de acordo com a profecia do cigano Melquíades. O mesmo se nota em relação ao fotógrafo Jorge Tadeu (em Pedra sobre Pedra), que ao morrer, aparece coberto de borboletas como ocorre com Onésimo Sanchez e suas mariposas em “Muerte constante más alládel amor”, outra história de García Márquez.

Outros autores também serviram de base para essa construção, como Lima Barreto que empresta à novela “Fera Ferida” tipos retirados de “Clara dos Anjos”, “A nova Califórnia” e “O homem que falava javanês”. Assim como também em “Pedra sobre Pedra”, “A Indomada” e “Porto dos Milagres” aborda como temas principais a cobiça, a ambição e curiosamente o autoritarismo a despeito de um país já aberto politicamente (Major Bentes e Demóstenes, de “Fera Ferida”; Murilo Pontes, de “Pedra sobre Pedra”; Altiva, de “A Indomada”; Felix Guerreiro, de “Porto dos Milagres”). Entretanto, logo o autor tematizaria o uso do realismo fantástico, deixando a entender que o cotidiano brasileiro já se mostrava suficientemente um absurdo.


*João Gibão (Juca de Oliveira), o pavão misteriosocom seu místico par de asas na novela Saramandaia em 1976.


*O retratista Jorge Tadeu (Fabio Junior) juntamente com as senhoras resplendorinas e a flor que o trazia de volta a vida na novela Pedra Sobre Pedra, 1992. 

Post feito por: André Santos

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